FÉRIAS

Vino Morais, nasceu a 1960 em Camacupa, Angola

O BLOG vai de férias até 15 de dezembro. Até lá boas pinturas e boas poesias.

QUADRO

Djosa, José Gomes, nasceu a 1944 em S. Nicolau, Cabo Verde

Lá vem nhô Cacai da ourela do mar

Acenando a sua desilusão

De todos os continentes!

Ele traz o peito afogado em maresias

E os olhos cansados da distancia das horas...

Lá vem nhô Cacai

Com a boca amarga de sal

A boiar o seu corpo morto

Na calmaria da tarde!

Onésimo da Silveira

ESTA É A CANDENTE TERRA...

David Levy Lima, nasceu a 13 de outubro de 1945 em Santo Antão, Cabo Verde

Esta é a candente terra de negrura

Onde debalde ficamos a nossa dor

E o sangue inocente que ainda jura,

No chão da maldição, em imenso clamor.

Olvidado na pompa e na púrpura

Da investidura de reinos sem pudor,

Construídos no terror e na mentira

Da traição à sacra promessa de amor.

Mário Fonseca

A CASA DA CHÁCARA

Alfredo Norfini, nasceu a 23 de dezembro de 1867 em Florença e faleceu a 23 de dezembro de 1944 em S. Paulo, Brasil

A casa da chácara reclama

seus mortos futuros

sem nenhum preparo

mas não por falta de aviso.

 

Há um tempo de vida

e outro – mais pesado – de morte

em todas as coisas:

tempos tangentes.

António Miranda 

O PAÍS DAS MARAVILHAS

Alfredo Anderson, nasceu a 3 de novembro de 1860 em Christianssand e faleceu a 9 de agosto de 1935 em Curitiba, Brasil

Não se entra no país das maravilhas,

pois ele fica do lado de fora,

não do lado de dentro. Se há saídas

que dão nele, estão certamente à orla

iridescente do meu pensamento,

jamais no centro vago do meu eu.

E se me entrego às imagens do espelho

ou da água, tendo no fundo o céu,

não pensem que me apaixonei por mim.

Não: bom é ver-se no espaço diáfano

do mundo, coisa entre coisas que há

no lume do espelho, fora de si:

peixe entre peixes, pássaro entre pássaros,

um dia passo inteiro para lá.

António Cícero

PASSEIOS

Don Sebas Cassule, nasceu a 12 de março de 1968 em Camabatela, Kwanza Norte, Angola

conheço as canções que o deserto desconhece.

bebo nas minhas mãos a imagem do deserto.

sinto-me torturado nas curvas do  deserto

onde vejo os barcos do planeta escamoso.

todas as minhas canções crepitam nos barcos.

todas as vozes concentram-se no meu sangue.

e o sangue para lá dos oásis do deserto

lembra os passeios sensuais dos meus olhos.

João Maimona

TECIDOS

Domingos Barcas, nasceu a 24 de setembro de 1968 em Benguela, Angola

meu corpo

é um tear vertical

onde deixaste cruzadas

as cores da tua vida: duas faixas um losango

marcas da peste.

meu corpo

é uma floresta fechada

onde escolheste o caminho

depois de te perderes

guardaste a chave e o provérbio.

Paula Tavares