SIRIPIPI

SIRIPIPI

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

ANTI-DELAÇÃO

António Aly Silva, nasceu a 15 de novembro de 1966 em Quebo, Guiné Bissau


A noite veio,
disfarçada em dia,
e ofereceu-me a luz,
diáfana como a Aurora.

Mas eu disse que não.
Vasco Cabral


DO QUE CHORA A CRIANÇA

Anselmo Godinho, natural da Guiné Bissau


Do que chora a criança?
É dor no seu corpo
Do que chora a criança?
É sangue que cansou de ver

Um pássaro grande chegou
Com ovos de fogo
O pássaro grande veio
Com os ovos da morte
José Carlos Schwartz

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

NO SILÊNCIO DO MEU CORPO

Kiki Lima (Euclides Eustáquio Lima ), nasceu a 15.04.1953 na Ponta do Sol, Santo Antão, Cabo Verde

Toco os teus campos de neve
e entrego-me aos fantasmas da minha infância

Religiosamente bebo a gota esquecida na palma
da minha mão.

Brisas subtis deixam em arcos tensos
as pétalas que em enfeitam.
Dina Salustio

PROPOSIÇÃO

Manuel Figueira, natural de S.Vicente, Cabo Verde


Ano a ano
crânio a Crânio
Rostos contornam
o olho da ilha
Com poços de pedra
abertos
no olho da cabra

E membros de terra
Explodem
Na boca das ruas
Estátuas de pão só
Estátuas de pão sol
Corsino Fortes

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

NEM TUDO É FÁCIL

Romero Britto, nasceu no Recife, Brasil, a 06 de outubro de 1963

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É dificíl agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
Cecília Meireiles

HOJE É OUTRO DIA

Ariane Krelling, nasceu no Brasil

Quando abro cada manhã a janela do meu quarto
É como se abrisse o mesmo livro
Numa página nova...
Mário Quintana



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A CANÇÃO DO SILÊNCIO

Tho Simões, Angola


A canção do silêncio é um poema ao suspiro
Mergulhado
Na profundeza do Índigo

O olhar de uma santa de barro

A linha do equador à deriva do pensamento
Gelo e sal e larva e mel

A canção do silêncio
Amélia Dalomba

CONFISSÃO


Arlete Marques, nasceu em Luanda, Angola


Podes crer que muitas vezes
vertemos o nosso ser em avessos
de dúvidas, querendo ser outros
querendo ser nadas
violentando-nos
com espadas.
Adriano Botelho de Vasconcelos

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

MENINAS E MENINOS

Maria Dulce G. Martins, luso timorense

Todos já vimos
Nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos
Nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos!
E então?

Fernando Sylvan

NÃO MAIS SOB A ÁRVORE DE BÔ

Marqy Costa, nasceu em Bacau, Timor-leste

Não mais a pureza de Ramahyana
O incenso e o sândalo
os pés nus nas pedras do tempo

enquanto eles comerem na minha mesa
na velha casa de Dili
não mais me sentarei sob a árvore de Bô


Jorge Lauten

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A NEGRA

Nèzó, nasceu em Angolares, S. Tomé e Príncipe

Negra gentil, carvão mimoso e lindo
Donde o diamante sai,
Filha do sol, estrela requeimada
Pelo calor do Pai,

Encosta o rosto, cândido e formoso,
Aqui no peito meu,
Dorme, donzela, rola abandonada,
Porque te velo eu.
Caetano de Costa Andrade

RITMO PARA A JÓIA DAQUELA ROÇA


Valdemar Dória (Tobias Amérika), nasceu em S. Tomé e Príncipe em  1974

Dona Jóia dona
dona de lindo nome
tem um piano alemão
desafinando de calor

Dona Jóia dona
de nome Sum Roberto
está chorando nos seus olhos
de outras terras saudades.
Francisco José Tenreiro

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

FIM

Guilherme Santa-Rita (1889-1918), nasceu em Lisboa, Portugal

Quando eu morrer batam em latas.
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro

O BARCO VAI DE SAÍDA

Ana Nagy (BIO), nasceu em Lisboa, Portugal

O barco vai de saída
Adeus ó cais de alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do equador
Fausto

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

MOSAMBICANTO I

Ilídio Candja, nasceu em Maputo, Moçambique, em 1976

céleres as águas
zambezeiam pela memória
das almadias do silêncio

nem o zumbido da cigarra
me entontece

nem o troar do tambor
me ensurdece

as vozes que são
sulcos das nossas esperanças
Gulano Khan

ANUNCIANDO UM POETA

Norberto Geraldes, nasceu no Niassa, Moçambique

A notícia 
já circulava
nos bastidores
da cidade
das acácias
mas como que
a combater
o boato cedo
certo jornal
anunciou
o renascimento
de um intelectual
talvez o número um
ou mesmo três
mas agora
a ordem 
não interessa
o que importa
neste momento
é reconhecer
que meu presidente
é um poeta
presente
quem duvida
que viva
até Novembro
pra escutar
os cantares
dos tambores
neste dois mil
e seis
Domi Chirongo

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

INFÂNCIA

Anselmo Godinho, nasceu na Guiné Bissau


Canções tradicionais das selvas africanas
Que lhes lembravam os ódios ardentes
Dos velhos. Subitamente, uma corça gritou
Fuginda na frente dos leões esfomeados.
António Baticã Ferreira

O ECO DO PRANTO


António Trigo, nasceu em Bolama, Guiné Bissau a 17 de outubro de 1938

Não me digas
Que essa é a voz de uma criança
Não...
A voz da criança
É suave e mansa
É uma voz que dança.
Agnelo Regalla

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

TERRA-LONGE

Nelson Neves, nasceu na vila da Ribeira Grande, Santo Antão, Cabo Verde, em 1973

Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
minha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sono que não vinha.

"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente".
Pedro Corsino de Azevedo

MÁSCARAS

António Firmino, nasceu no Mindelo, S. Vicente, Cabo Verde


De que fingimos
Não se dão conta
As Máscaras

Para coisas maiores
Foram feitas
Vadinho Velhinho

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O BICHO

Aldemir Martins (1922-2006), nasceu em Ingazeiras (CE), Brasil


"Vi ontem um bicho
Na inundice do pátio
Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão, 
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem".
Manuel Bandeira


VERSOS ÍNTIMOS

Ana Lúcia Mendina, nasceu no RS, Brasil

"Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - essa pantera -
Foi tua com panheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável, 
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera(...)!"
Augusto dos Anjos


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

DE CERTO MODO OS DESTROÇOS PALAVRAS

António Gomes "GONGA", nasceu a 25 de Abril de 1964 em Quitexe, Angola


de igual modo as partículas invariáveis traços lábias
sempre há uma mulher no mal
por isso trepo meu olhar pelas paredes e pelo tecto
o último cruzar de pernas
zona prestigiada o eixo compreendia o acento de intensidade
junto todos os sentidos no modo algum tempo exacto
sem esquecer na via erudita expressão
o étimo uma mesa com portal aberto
outro reino de certeza
a comunicação oficial adoptou o berço língua lençol
tanto tempo sonorizado
estava inscrito nas fronteiras este período
das alíneas funções sintácticas
diferenças dos pares vocabulares
nascem outras partículas variáveis destroços
Abreu Paxe

REBITA

Hildebrando de Melo "HM", natural do Huambo, Angola, nasceu em 1982

mulata da minha alma
batuque dos meus sentidos,
meus nervos encandecidos
vibram por ti, sem ter calma.

por isso vou à rebita,
quase triste e indeciso,
a queimar minha desdita
nas chamas do teu sorriso.
Tomaz Vieira da Cruz

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ESTE AGORA

 António Xavier Trindade, Goa, 1870 - 1935


Este agora
ao longo de milhas 
ao longo de linhas
o impulso
magnético
a falar-me
a um tempo
em Niagara de não cessar
ao democrata
ao mundo
metropolitano de emoções
a cidade
descobrindo Charlot
com humor
ao tempo
com humor humano
penetrado
com suor de chuva
em poros de asfalto
Vimala Devi

PAISAGEM DE GOA

Fausto Sampaio, Goa, 1893-1956

Goa Bela!
Olha os gates em Chama!
Olha a crista revolta
que se inflama!
Andam tigres à solta
nos bosques de Bengala!
É a Índia que te fala!
É a Índia que te chama!
Adeodato Barreto

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

MENINO DE TIMOR

Abel Jupiter, Timor-leste


Menino de Timor, estás triste?!…

Porquê?!… — Não tenho com quem brincar!

Nem com quem!… Já nem posso falar!…

A minha terra correste e viste

Como só há silêncio e tristeza!…

Assim é na palhota que habito!…

Já nem oiço na várzea um só grito!…

Só vejo gente que chora e reza!…


Jorge Barros Duarte

LEMBRANÇAS PROPOSITADAS

Bosco, Timor-leste

Sinto ainda o cheiro do
sândalo e lembro o aroma vértil no reinício da
vida e a expectativa de
colheitas abundantes



Lembro também coisas belas
no seio das famílias
humildes plantadas no solo
timorense.



Lembro o Natal herdado, 
o café sempre presente, 
o arroz, o milho, o búfalo



Tudo numa harmonia
que escapava à percepção
porque a ecologia é útil,
não é poesia. É sobretudo expressão de viver!

Crisódio Araújo

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

XVI

Pascoal Viegas "Canarim", nasceu em 1894 em S.Tomé e Príncipe


No dia em que te foste embora,
longos navios de silêncio
encheram a casa,
tão grande, tão vasta!
Todos os gatos da vizinhança
comiam cogumelos
e variam as cascatas
dos cemitérios
com agudas lâminas de tédio.
No cais das horas
fiquei-te a esperar-te:
grande pedra de saudade
de olhos hirtos.
Paira sobre mim a presença
de uma mão pálida
e sempre uma ave parte:
nunca sei para onde

Manuela Margarida




QUEM SOMOS?

Olavo Amado, nasceu em S.Tomé a 19 de maio de 1979


O mar chama por nós, somos ilhéus!
Trazemos nas mãos sal e espuma
cantamos nas canoas dançamos na bruma

somos pescadores marinheiros
de marés vivas onde se escondeu
a nossa alma ignota
o nosso povo ilhéu

a nossa ilha balouça ao sabor das vagas
e traz a espraiar-se no areal da História 
a voz do gandu
na nossa memória...

Olinda Beja

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

DESESPERO

de Matos, António de Matos Ferreira, nasceu em 1942 em Cantanhede, Portugal

Desespero... O mar turva-se aos meus olhos
porque o céu amua com a terra e entristece
Desespero...  Roça a minha fantasia
a língua da serpente e o meu céu não amanhece.

Rasga a sede do meu sonho
tome-me em teus braços nos instantes do delírio.
Rasga o ventre do teu dono
com a sinfonia nos compassos do martírio.

Salva-me...
 amor, salva-me.
Estrela sensual que o meu céu seduz.
Amor salva-me...
vem e salva-me
Olhar tropical que ao meu olhar dá luz.

Jorge Fernando

COM UM BRILHOZINHO

Álvaro Portugal, Coimbra, Portugal

Com um brilhozinho nos olhos
E a saia rodada
Escancaraste a porta do bar
Trazias o cabelo aos ombros
Passeando de cá para lá
Como as ondas do mar
Conheço tão bem esses olhos
E nunca me enganam
O que é que aconteceu diz lá
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no munda não há

Sérgio Godinho

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A UMA VIRGEM

Jacob Estêvão Macambaco, nasceu a 26 de junho de 1933 na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, Moçambique e faleceu a 26 de maio de 2008



Rasga-me o peito, se queres,
E vê nele a intensa chama,
Que há três anos o inflama
Em cruas dores, sem fim...
De padecer já cansado
Vou sentindo a morte dura
Arrastar-me à sepultura, 
E na flor da idade assim!...

Campos d'Oliveira

ENTRE O CALOR DAS TUAS PERNAS

Hamilton Adérito Membir, nasceu em 1983 na cidade do Maputo, Moçambique

Entre o calor das tuas pernas
sobressai firme e vigorosa
numa atitute de lascúdia
a rosa dos meus desejos.
E vejo em cada curva das suas pétalas
milhões de gestos provocantes
que me inundam o corpo
com milhões de riachos prateados.

Entre o calor das tuas pernas...

Amadeu Kazunde

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

DESPERTAR

Bacar Banora (Yachine) nasceu a 02.08.1966 em Gabú, Guiné Bissua




Ergui a taça do vinho e num só gole

Traguei a essência das palavras, engoli

Gota-a-gota as frases deslizaram-se adentro
Sereno, repudiei as faces carentes de alento

Ergui a voz e soltei as frases dilacerantes
As palavras que ansiavam, escutaram, inertes.
Os gestos imobilizaram-se, olhares húmidos!
Do verbo, deslizei-me então nos gerúndios:

Querendo, lutando, acreditando, negando
Provoquei, invocando o medo sonegado
Dos murmúrios pedi barulho, agitação
Dos olhares vagos se projectaram acção

Ergui o olhar e vislumbrei um céu nubloso
O prenúncio de uma noite no fundo do poço
Invoquei as divindades num parco discurso
E fez-se luz! Escolhemos outro percurso!






Waldir Araujo

ANTES DE PARTIR

Manuela Jardim, nasceu em Bolama, Guiné Bissau, a 07.07.1949


Antes de partir
Encherei os meus olhos, a minha memória
Do verde (verde, verde!) do meu País
Para que quando tomado pela saudade
Verde seja a esperança
Do regresso breve
Antes de partir
Encherei os meus ouvidos, a minha memória
Do palpitar que esmorece, enquanto a noite
Cresce sobre a cidade e no campo
Feito o silêncio dos homens e dos rádis...
Carlos Schwartz

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

SONHO

Hamilton J. Ramos Silva nasceu na Vila de Sal Rei, Boavista, Cabo Verde, a 7 de Novembro de 1958


A miragem desfez-se
em sobressalto
aquele enorme estandarte rubro
desfez-se em nada
toda a minha alegria
esfumou-se em vento
duas fartas lágrimas
lavraram minhas faces
todo eu tremi desesperado.
É que na verdade
a miragem a alegria o estandarte
tudo isso era mentira
fora um sonho.
David Hopffer C. Almada

BARCOS

Lito Silva, pintor cabo verdiano

"Nha terra é quel piquinino
É São Vicente é que di meu"

Nas praias
Da minha infância

Morrem barcos

Desmantelados.
Fantasmas
De pescadores

Contrabandistas

Desaparecidos

Em qualquer vaga

Nem eu sei onde.

Yolanda Marazzo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

VERSOS INTIMOS

Cândido Portinari nasceu na cidade de Brodowski, interior do estado de S.Paulo em 1903

“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera-
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera (...)”

Augusto dos Anjos

EU TE DESEJO

Emiliano Augusto Calvacanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti (Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1897 - Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1976), foi um pintor, ilustrador e caricaturista brasileiro.


Eu te desejo 

Com todo ensejo,
o clarão das noites de luar,
o calor aconchegante dos dias de sol,
o brilho cintilante das estrelas.
 
O doce afago das brisas,
o calmo marulho das ondas,
a refrescante sombra das árvores,
o suave perfume das flores.
 
A mansidão do verdadeiro amor,
o fervor de uma prece,
a fé que conduz a vida,
a crença que move montanhas

Eunice R. de Pontes

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A VOZ DA TERRA

Fernando Caterça Valentim, pintor angolano, nasceu na Gabela, província do Kwanza Sul, a 5 de maio de 1950

a poesia nasce como os rios
e as pessoas
as avenidas
 e o mar
porque a poesia vive em tudo
e em tudo se confunde 
com o sonho.
Costa Andrade

EMBRIAGUEZ


Lino Damião, nasceu em Luanda em fevereiro de 1977, trabalha sobretudo em pintura e gravura

eu aqui erecto
de pernas abertas
firmes
a espreitar um infinito
girando sob mim
eu rhodes dos tempos
a dedilhar personalidades
na firmeza de meus pés
estáticos
- a terra girante
- os homens girantes
- a natureza girante
tudo em meu redor
girante
eu escravo do tempo
- amarrado ao tempo
- imolado no tempo
a dedilhar vinganças
na raiva do impotente
Ruy Burity da Silva