O SIRIPIPI VAI DE FÉRIAS DE 01 A 15 DE AGOSTO. FAREMOS POSTAGENS BREVES, SE POSSÍVEL. FUGIMOS DO GARFIELD À PROCURA DO COLO DAS MAMÃS. VOLTAREMOS COM NOVAS PINTURAS. BOAS FÉRIAS AOS NOSSOS LEITORES.
Pintores e poetas percorrendo o mundo da língua portuguesa, fraternos, solidários e alinhados numa nação maior que o pensamento.
SIRIPIPI
quarta-feira, 31 de julho de 2013
FÉRIAS 2013
Lívio Morais
O SIRIPIPI VAI DE FÉRIAS DE 01 A 15 DE AGOSTO. FAREMOS POSTAGENS BREVES, SE POSSÍVEL. FUGIMOS DO GARFIELD À PROCURA DO COLO DAS MAMÃS. VOLTAREMOS COM NOVAS PINTURAS. BOAS FÉRIAS AOS NOSSOS LEITORES.
O SIRIPIPI VAI DE FÉRIAS DE 01 A 15 DE AGOSTO. FAREMOS POSTAGENS BREVES, SE POSSÍVEL. FUGIMOS DO GARFIELD À PROCURA DO COLO DAS MAMÃS. VOLTAREMOS COM NOVAS PINTURAS. BOAS FÉRIAS AOS NOSSOS LEITORES.
O CANTO OBSCURO ÀS RAÍZES
René Tavares, nasceu a 4 de novembro de 1983 em S. Tomé e Príncipe
Em Libreville
não descobri a aldeia do meu primeiro avô.
Não que me tenha faltado, de Alex,
a visceral decisão.
Alex, obstinado primo
Alex, cidadão da Virgínia
que ao olvido dos arquivos
e à memória dos griots Mandinga
resgatou o caminho para Juffure,
a aldeia de Kunta Kinte -
seu último avô africano
Primeiro na América.
Conceição Lima
1619
Neto Silva, nasceu a 5 de agosto de 1983 em S. Tomé, S. Tomé e Príncipe
Por noites e dias para ti tão longos
e tantos como as estrelas no
céu,
tombava o teu corpo ao peso de grilhetas e chicote
e só ritmo de
chape-chape da água
acordava no teu coração a saudade
da última réstia de
areia quente
e da última palhota que ficou para trás.
Francisco José Tenreiro
terça-feira, 30 de julho de 2013
SEM TÍTULO
Adriano de Sousa Lopes, nasceu a 20 de fevereiro de 1879 em Vidigal, Leiria e faleceu em Lisboa a 21 de abril de 1944, Portugal
Dizendo que é só
amor
fazes Deus menor que
Deus
cercas o ilimitado
dos limites que são teus.
Deixa de estufar o peito
quando fazes tuas rondas
talvez teu cérebro seja
só um bom detector de
ondas.
Agostinho da Silva
ROMANCEIRO DAS ÁGUAS
Acácio Lino, nasceu a 25 de fevereiro de 1878 em Travanca, Amarante e faleceu no Porto a 18 de abril de 1956, Portugal
Por teu peito
balsâmico de seivas
Há nos montes
fartura reluzente:
Domam-se as terras
de lavoura, as leivas,
E ergue-se à flor
a túmida semente.
Afonso Duarte
segunda-feira, 29 de julho de 2013
COMO UM CÃO
Carmen Muianga, nasceu a 8 de outubro de 1974 em Maputo, Moçambique
Como um
cão curvo-me
e procuro
ler nas marcas
que a
noite não pôde
recolher
o tempo.
Anima-me
a superfície fabulária
onde o
olhar do dia revolve
o que foi
alvoroço vida
ou sinal
ténue.
Heliodoro Baptista
ANUNCIANDO UM POETA
Bertina Lopes, nasceu a 11 de julho de 1924 em Maputo, Moçambique
A notícia
já circulava
nos bastidores
da cidade
das acácias
mas como que
a combater
o boato
cedo
certo jornal
anunciou
o renascimento
de um intelectual
talvez o número um
ou mesmo três
mas agora
a ordem
não interessa
o que importa
neste momento
é reconhecer
que meu presidente
é um poeta
presente
quem duvida
que viva
até Novembro
pra escutar
os cantares
dos tambores
neste dois mil
e seis
Domi Chirongo
sexta-feira, 26 de julho de 2013
NÃO, POESIA...
Carbar, Carlos Alberto Teixeira de Barros, nasceu em 1947 em Bissau, Guiné Bissau
Amílcar Cabral
... Não, Poesia...
Não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à
Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as
portas do meu ser
— sai...
Amílcar Cabral
AQUELA LÁGRIMA DE SANGUE
Braima Indjai, nasceu a 1 de agosto de 1964 em Quinhamel, Guiné Bissau
Agnelo Regalla
Aquela lágrima de sangue
Que te vi chorar, irmão,
Foi a paga que
nos pediram
Para entrar no escalão dos Homens.
Agnelo Regalla
quinta-feira, 25 de julho de 2013
CONTRASTE
Nelson Lobo, nasceu a 14 de julho de 1952 na cidade da Praia, Santiago, Cabo Verde
Yolanda Marazzo
A minha alma trema em tuas mãos
debruçada na varanda desta
tarde
Silêncio da cor em teus contornos
o adeus do mar dentro de
mim
Para além do ilhéu dos pássaros da ilha
o sol morre aos poucos
devagar
Yolanda Marazzo
MOMENTO VI
Nato Filarte, nasceu em 1973 na cidade da Praia, Santiago, Cabo Verde
Vai e grita pelas
achadas imensas
que a vida se
conquista
contra a violência
e a morte.
Diz
do amor que brota
das areias
do mar
solitário
do abraço fecundo
que nasce
dos confins de
nossos seres.
Vera Duarte
quarta-feira, 24 de julho de 2013
VELHICE
Ado Malagoli, nasceu a 28 de abril de 1906 em Araraquara e faleceu a 4 de novembro de 1994 em Porto Alegre, Brasil
Água do rio Letes, onde passas?
Venha a mim o teu curso benfazejo
Que sepulta alegrias ou desgraças
No mesmo esquecimento sem desejo.
Quero beber-te por contínuas taças...
E às horas do passado que revejo,
Pedir-te que as afogues e desfaças
Na carícia e na esmola do teu beijo!
Alberto Oliveira
ANHANGABAÚ
Abelardo da Hora, nasceu em S. Lourenço da Mata em 1924, Brasil
No Piques, vagando à-toa,
é raro quem não pressinta
uma toada indistinta
que, sob as pedras, ressoa,
Conta moedas, tilinta,
como refrão de uma loa,
a fonte exilada e boa,
há muitos anos extinta.
Sua alma que ali revoa,
de céus e de ares faminta,
repete a cada pessoa
Uma novela sucinta;
noturnos, capas, garoa,
1830...
Afonso Schmidt
terça-feira, 23 de julho de 2013
UMA PLANATA; PLANTANDO SONHOS
Kabissi Remos, nasceu a 1952 em Maquela do Zombo, Uíge e faleceu a 2003, Angola
no canto do fim do mundo
há uma flor
contando histórias
à porta de minha casa
há uma planta
plantando sonhos
Domingos Florentino
A MINHA CASA
Hypo, Capitão da Silva, nasceu a 13 de agosto de 1953 em Luanda, Angola
A minha casa
É fácil de localizar
É fácil de encontrar
Basta ires sempre em frente
Para além da linha do horizonte
É fácil concerteza
Primeiro encontras lixo
Lixo e pessoas em convivência
E em harmonia,
Lixo na parte de baixo
E na parte de cima
Lixo e pessoas em convivência íntima
Décio Bettencourt Mateus
segunda-feira, 22 de julho de 2013
CALAI
Timor Leste
Montes
Vales e fontes
Regatos e ribeiros
Pedras dos caminhos
E ervas do chão,
Calai
Francisco Borja da Costa
MENINO GRANDE
Husi Afalyca, Timor Leste
Quando te chamava.
Não há menino grande ,
Mas sou,
Menino verdadeiro .
Fernando Sylvan
Papá,
Ressoa em todo eu
A minha voz primeira
O menino que fui potenciou-se.
Papá,
Fernando Sylvan
sexta-feira, 19 de julho de 2013
MUKANDA
Olavo Amado, nasceu em S.Tomé a 19 de maio de 1979
Baía morena da nossa terra
vem beijar os pézinhos agrestes
das nossas prais sedentas,
e canta,
baía minha
os ventres inchados da minha infância,
sonhos meus,
ardentes da minha gente pequena
Alda Espírito Santo
QUANDO O LUAR CAIU
Nezó, João Carlos, nasceu a 18 de agosto de 1964 em Angolares, S.Tomé, S. Tomé e Príncipe
As pedras crescem como ondas
no silêncio do teu corpo.
Jorram e rolam
como flores violentas.
E sangram como pássaros exaustos
no silêncio do teu corpo
onde a noite e o vento se entrelaçam
no vazio que te espera.
Conceição Lima
quinta-feira, 18 de julho de 2013
EUROPA
José Viana, nasce a 6 de dezembro de 1922 e morreu a 8 de janeiro de 2003, Portugal
Na erma solidão
glacial da treva
os que não
morreram velam.
Em vagas
sucessivas de descargas
A morte ceifou os
nossos irmãos.
O medo
ronda,
o ódio
espreita.
Todos os homens
estão sozinhos.
A madrugada ainda
virá?
Adolfo Casais MonteiroPOETISA MORTA
Graça Morais, nasceu a 17 de março de 1948 em Vieiro, Trás-os-Montes, Portugal
Gosto de me deitar
sem sono
para ficar
a lembra-me
das coisas
boas
deitada
dentro da cama
às escuras
de olhos fechados
abraçada
a mim
Adília Lopes
quarta-feira, 17 de julho de 2013
O PESCADOR DE MOÇAMBIQUE
Ciro, Ciro Jorge Pereira, nasceu em 1957, Moçambique
Antes que o sol se levante
eis que junto à praia estou;
se ao repouso marco as horas
à preguiça não as dou;
em frágil casquinha leve,
sempre longe do meu lar,
ando entregue ao vento e às ondas
sem a morte recear
Campos d'Oliveira
SE ME PERGUNTARES
Vânia Lemos, nasceu em 1962 no Maputo, Moçambique
Se me perguntares
Quem sou eu
Cavada de bexiga de maldade
Com um sorriso sinistro
Nada te direi
Nada te direi
Mostrar-te-ei as cicatrizes de séculos
Que sulcam as minhas costas negras
Que sulcam as minhas costas negras
Olhar-te-ei com olhos de ódio
Vermelhos de sangue vertido durante séculos
Mostrar-te-ei minha palhota de capim
A cair sem reparação
Levar-te-ei às plantanções
Onde sol a sol
Me encontro dobrado sobre o solo
Enquanto trabalho árduo
Mastiga meu tempo
Armando Guebuza
terça-feira, 16 de julho de 2013
NHA MUNTURUS
António Aly Silva, nasceu em Bissau, Guiné Bissau
N’sai
ianda,
n’ba cudji ki minino, ki minino
cu parci
papé.
Ai
munturus (oh )!
Ah munturus burgunho,
munturus.
Nha munturus burgunho.
Ai munturus (oh )!
Nha munturus burgunho,
munturus (oh ).
Ai nha
minino
cu parci pape oh .
Nha minino cu parci
pape.
Cantiga de mandjuadade
CANTO A UMA ESCRAVA
Ismael Hipólito Indjai, nasceu a 16 de março de 1979 em Bissau, Guiné Bissau
que
vinha para
embarcar .
com ramo de
coral ;
com lenço de cambraia .
que
vinha para
embarcar
Recolha de Marcelino Marques deBarros
Eu era uma
triste escrava ,
ai! E que bem triste escrava ,
O meu senhor vestiu-me
e
zangado batia-me
e pensava-me as chagas
co’o mais doce
licor ;
E limpava-me as
f’ridas
E eu era
triste escrava
- que ben ba par
bàe.
Recolha de Marcelino Marques de
segunda-feira, 15 de julho de 2013
A MINHA PÁTRIA É UMA MONTANHA
Misá, nasceu em 1962 na cidade da Praia, Santiago, Cabo Verde
Se lhe palpita o coração robusto,
Em derredor tudo estremece logo:
Pálida e fria de pavor a Brava,
E, em ânsias, Santiago e o Maio adusto.
Fala... e as palavras fluem em torrentes
De lavas rugidoras e candentes...
Na verdade, escutai! - chama-se Fogo!
Pedro Cardoso
CABOVERDIANAMENTE
Manuel Figueira, nasceu em S. Vicente, Cabo Verde
Detém-te lágrima
Não ferimos ainda o último combate
Ah esse desejar loucamente o sol
este ansiar febril por fontes que não há
Detém-te e espera
caboverdianamente espera
o dia em que
devagarinho
penetrarás
a terra geminada de esperança.
Ovídio Martins
sexta-feira, 12 de julho de 2013
TRADUZIR-SE
Luiz Zerbini, nasceu em 1959 em S.Paulo, Brasil
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Ferreira Guillar
JÁ ESCREVI...
Mara D. Toledo, nasceu a 21 de julho de 1953 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil
Já escrevi a minha árvore
no papel de puro asfalto.
no papel de puro asfalto.
Já plantei os filhos meus
nas terras di sibressalto.
nas terras di sibressalto.
Já dei à luz as palavras
plantadas no corpo e alma.
E cumprindo meu destino
restauro com toda calma
restauro com toda calma
o carma que vou levando
lavando bem minha alma
lavando bem minha alma
Meu relatório final
que não salva, nem perdoa
que não salva, nem perdoa
à toa na praia e selva
na volúpia da garoa
na volúpia da garoa
sangrando mel, faca fria
bem temperada alegria
na rebelião mais cruel.
na rebelião mais cruel.
A noite desova o dia
a vida faz seu papel.
Reynaldo Jardim
a vida faz seu papel.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
ESPERA
Arlete Marques, nasceu em Luanda a 4 de julho, Angola
Existo acento de palavra, carapinha
recordação áspera de monandengue,
mapa de conversas na visitação da lua,
grávida luena sentada no verso da fome.
aqui esqueço África, permaneço
rente ao tiroteio dialecto das mulheres
negras, pasmadas na superfície do medo
que bate oblíquo no quimbo quebrado.
David Mestre
NA PIROGA DO XINGUILAMENTO
Gonga, António Gomes Gonga, nasceu a 25 de abril de 1964 em Quitexe, Uíge, Angola
Crê-se na beleza profunda das coisas, menos no fel da
sua opacidade. Mas na dança poeirenta das beçanganas,
esta desfaz-se nos panos infravermelhos com missangas
sua opacidade. Mas na dança poeirenta das beçanganas,
esta desfaz-se nos panos infravermelhos com missangas
de gipepe, que adornizam a história de uma tradição. Esta,
no mar africano do pescador, encantou o universo das
viagens marítimas.
no mar africano do pescador, encantou o universo das
viagens marítimas.
Na dança poeirenta do xinguilamento axiluanda, uma
cultura refugia-se fundo na raiz do seu tempo e traz p'ra
modernidade o sentido da própria história, que as velas
marginais do além, vãmente fizeram por mortalizar.
Curry Duval
cultura refugia-se fundo na raiz do seu tempo e traz p'ra
modernidade o sentido da própria história, que as velas
marginais do além, vãmente fizeram por mortalizar.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
CANTA LIBERDADE
Zaira, Timor leste
É lá,
nessas montanhas...
nesses rochedos...
nessa selva...
com o orvalho da manhã!
com o por do sol!
com o sorriso da Lua!
que tu contornas e moldas...
dia a dia...
noite a noite...
Felizardo Guerra
nessa selva...
com o orvalho da manhã!
com o por do sol!
com o sorriso da Lua!
que tu contornas e moldas...
dia a dia...
noite a noite...
Felizardo Guerra
DUZENTOS RESISTENTES
Fraguial, Timor leste
Somos Todos por Timor
Por um Timor livre...
Por um Timor Independente.
Ha quantos anos a lutar?
Até o ultimo a tombar.
Com todo o fervor
Timor irá gritar
Ramehana Ailaitan
Por um Timor Independente.
Ha quantos anos a lutar?
Até o ultimo a tombar.
Com todo o fervor
Timor irá gritar
terça-feira, 9 de julho de 2013
PARA UM LEQUE
Manuel Ceita, nasceu a 20 de novembro de 1961 em S. Tomé, S. Tomé e Príncipe
Se eu lhe fosse depor, minha senhora,
Por entre estas mentiras cor de aurora
Uma verdade sã e proveitosa,
Chamava-lhe vaidosa!
E, faça-me favor,
Não encrespe esse olhar acostumado
Ao falso galanteio delicado
E a finezas de amor.
Caetano de Costa Alegre
V
Leonel Varela, nasceu a 5 de janeiro de 1975 em S. Tomé, S.Tomé e Príncipe
A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.
No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.
Manuela Margarido
segunda-feira, 8 de julho de 2013
VENS DE NOITE NO SONHO
Fátima Vaz, nasce em 1942 em Lisboa e morre, na mesma cidade, em 1992, Portugal
Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti.
A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada.
Ana Marques GastãoO NOSSO MUNDO É ESTE
Abel Manta, nasceu a 12 de outubro de 1888 em Gouveia e morre a 09 de agosto de 1982 em Lisboa, Portugal
José Gomes Ferreira
O nosso mundo é este
Vil suado
Dos dedos dos homens
Sujos de morte.
Um mundo forrado
De pele de mãos
Com pedras roídas
das nossas sombras.
José Gomes Ferreira
sexta-feira, 5 de julho de 2013
A ILHA E O SEGREDO
Azymir, Azymir Ventura Chiluquete, nasceu em 1962, Moçambique
Visão
colada à bruma
no infinito ponho
do rosto do eterno
a transparência Persa negro e branco
cabaias e cofiós
de seda e linho,
em pontilhado, aurora
minha utopia que sangra.
Nos mármores róseos
da fortaleza
tua consciência, livre
recria o nada.
Virgílio de Lemos
SERMENTE
Athumane, nasceu a 1947 em Maputo, Moçambique
E se Paul Celan
me entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente
Tânia Toméme entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente
quinta-feira, 4 de julho de 2013
SEMENTE
Lilison, Januário Tomás Sousa Cordeiro, nasceu a 28 de fevereiro de 1959 em Bolama, Guiné Bissau
A morte
a minha morte
já não me preocupa
A semente já é raiz
tronco e folhas
flores e frutos...
Outras mais germinarão
e o vento as levará
carinhosamente
a todos os campos da Guiné-Bissau...
Didinho
a minha morte
já não me preocupa
A semente já é raiz
tronco e folhas
flores e frutos...
Outras mais germinarão
e o vento as levará
carinhosamente
a todos os campos da Guiné-Bissau...
A BOLAMA
Nú Barreto, Manuel Barreto da Costa, nasceu a 30 de setembro de 1966 em S. Domingos, Guiné Bissau
Cingido pela sombra
do mangueiro
esqueci o mundo
do mangueiro
esqueci o mundo
Sentei o corpo
na relva,
na relva,
olhando o mar
Um pescador
deitou
a rede
Três
canoas
cortaram
o horizonte
deitou
a rede
Três
canoas
cortaram
o horizonte
O sol esmorecia
Como soprado
pela brisa
ouvi um merengue
Adormeci...
(e eu que sentia o pesadelo
de viver)
pela brisa
ouvi um merengue
Adormeci...
(e eu que sentia o pesadelo
de viver)
Carlos Semedo
quarta-feira, 3 de julho de 2013
MANHÃ INFLOR
Manú Cabral, Manuel Maocha Cabral, nasceu em 1962 em Ribeira Bote, S. Vicente, Cabo Verde
as héveas murcharam
desertas de folhas
desertas de flores
propositadamente
nem só o sangue mas também a seiva
nem só a criança mas também a pétala
nem só o homem mas também a planta
nem só a carne mas também a lenha
propositadamente
Oswaldo Osório
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